Fernanda Montenegro descreve sua autobiografia Prólogo, ato, epílogo – publicada no ano de 2019, em comemoração aos seus 90 anos – como uma “viagem com muitos colegas, com muitas crises políticas, com muitas linguagens cênicas, com muita coragem de sobrevivência e resistência”. Nela, a atriz narra, entre outras passagens, o seu contato com o feminismo, por meio de autoras como Simone de Beauvoir (1908-1986), engajamento que atualmente se expressa por seu apoio ao movimento #MeToo, nascido em 2017, com o intuito de denunciar a agressão e o assédio sexual sofrido por mulheres, em especial, atrizes.
O livro também remonta situações curiosas na carreira de Montenegro, como a conquista do Urso de Prata, no Festival de Berlim de 1998, pela atuação como a protagonista Dora no filme Central do Brasil (1997), de Walter Salles. Aclamado pela crítica, o longa recebeu mais de uma honraria nessa edição do festival, quebrando protocolos da premiação.
A dedicação de Fernanda ao ofício se expressa principalmente no cinema, campo no qual a atriz trabalhou em diversas produções de baixíssimo orçamento, como Eles Não Usam Black-Tie, de 1981. A entrega à profissão e aos caminhos da arte também foi evidenciada na fundação da Companhia dos Sete, ao lado de Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Gianni Ratto, Luciana Petruccelli, Alfredo Souto de Almeida e Fernando Torres, seu companheiro, com quem viveu por 60 anos, até a morte do mesmo, em 2008.
“O livro traz a mensagem de uma missão bem executada, ainda que incompleta. Na última frase, Fernanda revela sua sensação de dever cumprido: ‘Tudo vai se harmonizando para a despedida inevitável. Inarredável. O que lamento é a vida durar apenas o tempo de um suspiro. Mas acordo e canto.’”
Estadão